sábado, novembro 24, 2007

EU E O SUICÍDIO


Resolvi escrever sobre algo que me persegue desde a infância e da qual nunca consegui me livrar, não sei se isso é normal com as outras pessoas, mas comigo o desejo pela morte nos momentos mais difíceis já faz parte da minha vida. Não escrevo isso, para pedir ajuda ou querer que alguém se compadeça por mim, é só mais um relato quanto tantos outros que já fiz e que vou fazer aqui e em outros meios. Quero deixar bem claro que tudo o que está postado aqui neste post em especifico é realidade.

Primeira cena:

Aos 10 anos de idade a mais ou menos uns 7 meses após o falecimento da minha mãe, meus irmãos brigaram comigo por uma bobagem, acho que por causa de uma louça suja ou algo assim, mas aquilo me machucou, fui para avenida que ficava enfrente a minha casa e da qual havia um trafego muito grande, me deitei no meio da pista a espera de um carro que passasse por cima de mim, eram umas 22:00hs o local era escuro e para o meu azar ou não sei se sorte, nem um carro passou por cima de mim, fiquei por uns 20 minutos até o nervoso passar, a consciência tornar ao normal e o medo não da morte, mas do sofrimento por um atropelamento sem morte consumir minha cabeça. Levantei e desapareci por umas três horas.

Segunda cena:

Com doze anos de idade e já cansado da vida improvisada que eu e meus irmãos levávamos, deprimido como a maioria das vezes que lembro de mim, resolvi que não tinha competência para viver, resolvi então deixar isso para quem sabe. Encontrei uns comprimidos imensos e tinha certeza que a solução para o meu problema estava ali, engoli 10 daqueles comprimidos, minha irmã ao perceber, riu da minha cara e disse que os comprimidos nada mais eram do que vitaminas. Tinha muita graça em uma pessoa tentar se matar com 10 comprimidos de vitamina C, o que não teve graça foi minha irmã não perceber que uma criança de 12 anos tentara se matar e que na cabeça daquela criança ali não tinha vitamina e sim algo que poderia matá-la e que ela fez uso do seu possível veneno.

Terceira cena:

Aos 16 anos desempregado e sem esperança de vida depois de uma longa e triste conversa com um amigo, um desabafo, fui para os fundos da casa enchi um copo de água sanitária e coloquei na boca, com aquilo queimando minha língua e meu céu da boca, veio um filme em minha cabeça e uma trágica constatação, eu nunca vi ninguém morrer por engolir água sanitária, eu tinha certeza que não pretendia fazer chantagem emocional, queria realmente morrer, não queria que além de tudo as pessoas perdessem a credibilidade em mim. Cuspi aquela água que me queimava e ardia toda a boca. Fiquei uns 2 meses com a boca toda cortada, sem sentir paladar e com a sensação que tinha o colchão enorme na boca.

Quarta cena:

Hoje tenho 29 anos, com imensa clareza das coisas, mas com a morte ainda a rondar minha cabeça, só que hoje sou consciente do mundo, sei o que uma dose excessiva de potássio pode fazer e que a mesma é vendida numa farmácia sem qualquer restrição.
Se há uma coisa que tenho certeza é que, se a violência que tomou conta do Brasil não me matar eu serei o meu próprio algoz. Sei que o suicídio está escrito na minha trajetória de vida. Eu cresci, aprendi, me eduquei, mas este fantasma não se esqueceu de mim, é meu parceiro e tenho certeza que irá comigo, ou melhor, me levará.

Wilton Alexandre