quarta-feira, setembro 16, 2009

CARTA AOS AMIGOS

Queridos, como já é do conhecimento de todos, perdi meu Bê semana passada depois de duas torturantes semanas em que ele ficou internado em um hospital na Romênia. Conto que depois de quase 10 anos de convivência, felicidade, amor, cumplicidade, respeito e companheirismo estas estão sendo as semanas mais tristes da minha vida. Não sei como será daqui em diante, pois, desde que conheci meu Bê, nunca me imaginei vivendo sem ele, não tenho um projeto de vida em que ele não esteja incluído, além de ter a certeza absoluta que era ele a pessoa com quem eu queria envelhecer junto.

Meus dias em Bucareste foram sofridos, posto que eu fui determinado a buscá-lo para que se trata-se no Brasil e ao chegar, me deparei com a fatalidade que já havia ocorrido, ver pela primeira vez o apartamento em que ele estava vivendo foi massacrante e ao mesmo tempo, confortante, fiquei impressionado em como ele fez tudo para que a minha presença estivesse impressa naquele apartamento, desde as fotos espalhadas nos cantos da casa até a decoração que eu havia feito no apartamento de Cabo Verde que para a minha surpresa, era igual em Bucareste.

Hoje, tento ficar de pé, preciso recomeçar em vários aspectos, isso me desanima, estou cansado de recomeçar. Tenho a sensação de que estou dentro de um filme do Almodóvar, ontem tinha tantos planos e agora tudo mudou tão repentinamente, fui mutilado na alma e não sei se existe cura para isso.

Agradeço a todos os amigos que de alguma forma compadeceram da minha dor e aos que estiveram próximos neste momento e participaram na minha luta para ir a Bucareste, aos amigos do trabalho que compreenderam meu momento permitindo a minha ausência por todo este tempo, aos embaixadores do Brasil em Bucareste a que tive a sorte em meio a tanta dor que fossem amigos, facilitando a minha vida na Romênia e que fez tudo para que minha dor fosse menor em um país tão distante, assim como os funcionários da embaixada e da residência oficial.

Escrevo esta, porque me senti na obrigação de fazê-lo posto que foram tantos os amigos que manifestaram preocupação, outro legado que meu Bê me deixou, ampliou meu universo de amizade e assim, amigos provenientes de Cabo Verde, Bucareste, Bruxelas, Nova York, Paris, Londres, Timor Leste, Espanha, Portugal e em vários Estados brasileiros manifestaram sua dor e amizade. Não posso dizer que hoje estou bem e nem sei quando isso vai acontecer e se vai acontecer, mas de tudo isso me comoveu esta rede de amigos que eu não tinha prestado a atenção no tamanho e na intensidade.



Farei tudo para ficar bem



Obrigado a todos.



Faça a gentileza de repassar esta aos amigos.



Wilton (Tom)

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